O patinho que nao nadava nada

Mamãe pata e seus filhotes fugiam de um incêndio na floresta. Depois de pensar muito, conclui que deveriam cruzar o rio. Mas, quando chegou ao local da travessia, encontrou um pato que dizia, batendo na testa:

Meu Deus, que agonia,
tem água demais nesse rio
e saudade demais de quando eu sorria,
e fingia que nadava, pro meu tio.

Um pato que não podia nadar? Que loucura! Estaria doente? Teria algum problema na asa? Seria má formação, uma fissura ou contusão? Não, é o medo da água que o tortura.

Mamãe pata, me ajude
que o fogo vem ligeiro.
A fumaça das árvores se desprende,
e, ainda assim, sou incapaz de cruzar um ribeiro.

Chamou mamãe pata seus cinco filhotes.

- Não podemos deixá-lo aqui ou virará pato assado.

Cada pato se propôs a achar uma sugestão para a questão:

- Deixem-no aqui.

- Façamos um barquinho para o patinho.

- Amarrem-no a um cipó que vamos puxando.

- Vamos levá-lo nas costas; cruzemos rio para pedir ajuda lá do outro lado, precisamos de suporte.

Me ouça, mamãe pata,
se você me salva,
prometo, em voz alta,
aprender a nadar como o meu pai nadava.

Não restava muito tempo e a decisão era dela. As águas estavam de fato ameaçadoras: havia galhos, pedras, troncos em chamas que se transformavam em armadilhas. Sem contar os animais que, em diferentes filas, cruzavam o rio em busca de vida.

- Prepare-se pequeno amigo, que a aventura será bela.

Nunca me esquecerei desse dia,
nem da sua atenção.
E se há algo que reconheço é a sabedoria
de cuidar de seus filhotes e lhes dar uma lição.

- Patinho solitário, você sobe nas minhas costas, filhos segurem-se com o bico um no rabo do outro.

Poucos minutos bastaram para que a caravana de patos se organizasse de maneira a fugir das chamas da clareira. O patinho solitário não ousava abrir os olhos e fingia que não sentia os perigos da travessia imposta.

- Falta pouco, meus filhos - gritava a mamãe pata para dar forças ao grupo. O patinho solitário, no entanto, sabia que, enquanto não estivesse com as patas na terra, sua vida perigo corria.

- Cuidado, vem um tronco em alta velocidade. Vamos parar um momento!

E um ramo desse tronco acertou a cabeça de mamãe pata que gritou:

- Estou tonta, acho que vou desmaiar.

O patinho abriu os olhos, pulou dentro da água e falou para os patos e patas:

Amigos, não temos escolha,
salvemos sua mamãe sem demora
e não se preocupem com as bolhas
de fogo, de água ou de ar. Vamos, agora.

Cada patinho segurou a mamãe pata de um lado e, liderados pelo patinho solitário, levaram-na até a terra firme.

- Obrigada, meu filhos, já me sinto melhor. Mas a grande surpresa foi a braveza com que com você, amigo, me socorreu quando era eu quem o socorria.

Também não sei o que passou,
mas aprendi duas lições:
que sabia nadar e que não se pode perder o amigo que se achou.

Desse momento em diante, a família de mamãe pata e do patinho, que não era solitário, se encontraram muitas vezes para festejar os reveses da aventura passada.

Solange Munhoz


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