Leitura e cálculo precoces em Síndrome de Asperger: Disfunção transfigurada em «inteligências múltiplas»
Introdução
A inteligência deixou de ser entendida como inata, um marco
monolítico e estável. Na actualidade, esse conceito socialmente construído
tornou-se dinâmico (sujeito a movimento); podemos sempre potenciar competências
novas. Ao longo da evolução das espécies, a inteligência evoluiu
também e continua a desenvolver-se desde o nascimento.
A noção linguística de «inteligência» formou-se, de acordo
com os dois vocábulos constitutivos do conceito. Ao termo inte,
com o significado etimológico entre, foi aliado eligere, com o
sentido de escolha. Trata-se da capacidade de compreensão, que nos permite
escolher as melhores opções para as coisas e as ideias.
A teoria das inteligências múltiplas, de Howard Gardner
e de colaboradores do Project Zero, da Universidade de Harvard
(EUA), nos anos 80 (mais precisamente a partir de 1979), foi introduzida
por dois livros, Frames of Mind (1983)e Multiple Intelligences
- The Theory in Practice (1993c, trad. esp. 1995, trad. bras. 2000).
Terão causado grande impacto no meio académico americano. A possibilidade
de existirem não uma, mas oito «inteligências» separadas e passíveis de
acção conjunta, foi a sua opção. As inteligências visual, musical e/ou
lógico-matemática de certas pessoas podem ser extraordinárias e a inteligência
(inter)pessoal falhar.
Definida de forma ampla por aquele psicólogo do desenvolvimento,
americano e auto-identificado progressista, a inteligência integra
a criação de «produtos» (ou produções como uma peça televisiva)
e a habilidade na resolução de problemas, valorizados em um ou mais
ambientes culturais e comunitários (Gardner, 1983, p. x; 1993c, trad.
bras. 2000, p. 14).
Nesse sentido, o espanhol C. Antunes (1998, pp. 8-10) salienta
o fluxo cerebral necessário, para a realização de «façanhas» como,
por exemplo, encontrar um caminho, tentar lembrar um percurso, realizado
no passado, dito que nos tenhamos perdido, em Madrid. Todas as pessoas
possuem um potencial cerebral, com ritmo e profundidade distinto, de inteligência
espacial ou de outro modo predominante de ver o mundo.
Joseph Walters e Howard Gardner (1986; Gardner, 1993c, trad.
bras. 2000, pp. 38-39) distinguem “inteligência” (potencial biopsicológico)
de “domínio” (exs.: disciplina de psicologia ou ofício de investigador,
praticado por psicólogo ou biólogo) e de “campo” de acção/reflexão (centro,
trabalho como especialista em inteligência). De forma ampla, em
casa e na escola, na fábrica e em outro contexto de vida social constituem-se
janelas para o mundo e exige-se inteligência para viver e mudar.
Importa potenciar, reconhecidas e estimuladas inteligências. Também se
nos abrem janelas de oportunidades, mas não todos os dias. Em certas
épocas de vida, ocorrem momentos óptimos de reconhecido arranque
para diante.
Na presente comunicação, expõe-se
a intervenção psicológica com rapaz, observado com competência de orientação
espacial em rotas seguidas, numa cidade. Também se observam nele outras
inteligências, em áreas numérica, de cálculo e de leitura (hiperléxico),
sofrendo de «síndrome de Asperger», diagnosticado aos 4 anos. Segundo
a mãe, o João foi preguiçoso para falar, embora leia, em voz alta,
desde os 2 anos e meio.
Será feita alusão a uma menina com 10 anos, bailarina, diagnosticada
com a mesma síndrome.
De acordo com a Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner,
o menino manifesta dois modos de inteligência «superiores», elementos
esses dissociáveis de inteligências (Walters & Gardner, 1986;
Gardner, 1993c, trad. bras. 2000, p. 45) - cálculo e leitura. Possui,
igualmente, áreas fracas, tais como linguagem (expressiva e compreensiva),
autonomia e socialização, motricidade fina e motricidade global. Lê números,
conta-os e lê letras, sem ter sido ensinado. O pai «parece-se muito com
ele», no evitar relações humanas e no interesse por computadores.
Conhecidos fenómenos, como os apontados, de precocidade,
de lesão cerebral e de alto desempenho, é possível vir a ser melhor fundamentada
uma ou outra inteligência. Com a caracterização e Estudo de Casos da Síndrome
de Asperger também se pretende complementar, por um lado, o diagnóstico
de «autista» e de «autista sábio» e, por outro lado, coloca-se a acepção
- não consensual - de que o João manifeste comportamentos de sobredotação.
No DSM IV - TR (APA - 2002, pp. 80-84), as «perturbações
globais do desenvolvimento» referem-se a afecções/disfunções (entre as
quais a síndrome de Asperger), que ocorrem nos primeiros anos de vida,
e integram limitações em competências de interacção social recíproca,
de comunicação ou a presença de comportamentos, interesses e actividades
estereotipados. De acordo ainda com a acepção tradicional, a inteligência
medida por testes pode ser «normal» ou «superior», na síndrome de Asperger.
Na perspectiva neuro-biológica,
conjuntos de genes podem levar à forte componente genética no espectro
autista. Com as novas técnicas de imagem cerebral (o imaging),
observados casos de autismo de tipo Asperger, encontram-se lesões na amígdala,
hipotálamo e cerebelo.
Desde os anos 80, Lorna Wing, Uta Frith e Christopher Gillberg
destacaram-se na caracterização dessa síndrome.
Aproximam-se
dessa disfunção personalidades notáveis e controversas, no passado ou
no novo século. Iremos referir-nos a Albert Einstein (1879-1955), ao escritor
francês Georges Perec (1936-1982), ao excepcional escritor português José
Régio (1901-1969) e à psicóloga, doutorada em ciências agronómicas e animais
Temple Grandin, já com cerca de 55 anos. Outras personalidades geniais
têm vindo a ser consideradas, como sofrendo dessa disfunção: a escritora
americana Donna Williams; o pintor van Gogh; o compositor Béla Bártok;
o filósofo Wittgeinstein; o actor Rowan Atkinson (Mr. Bean). Terão
bem misturado inflexibilidade, rotina e fantasia.
Apresentam-se adiante Perfis Funcionais de Desenvolvimento
(Vieira et al., 2001; Palha et al. 2001), que clarificam o enquadramento
nosológico proposto, para diferenças graficamente observáveis (nosografia),
nas síndromes autista e de tipo Asperger. Na observação da criança de
4 anos, por ausência de colaboração, utilizou-se o Autistic Behavior
Interview - ABI (Entrevista sobre o Comportamento Autista) de Cohen
e colaboradores (revisão de 1993). Foi realizada uma continuada observação
em contextos de vida familiar e no Jardim de Infância (centro educativo).
1. Janelas de inteligência e sobredotação
Surge hoje como consensual, que as pessoas inteligentes
foram já quase deuses, demónios ou até mesmo «loucos».
As concepções de inteligência são múltiplas e continuam a
multiplicar-se, nomeadamente, valorizadas perspectivas cognitivistas,
para funções de activação de atenção, codificação de informação
e planeamento (Das, 1992, p. 73). J. W. Berry (1992, p. 53), entretanto,
separou a área psicológica cognitiva (incluída a percepção sensorial)
do funcionamento motor, social, emocional ou motivacional, cambiantes
não reportados por si à inteligência. Essas são abordagens também tradicionais,
para um escola conservadora, segundo uma visão uniforme (Gardner,
1993c, trad. bras. 2000, p. 13): um currículo básico, um conjunto de factos
a conhecer (matérias escolares), em ausência de disciplinas opcionais.
Em alternativa, ao conceito monolítico e à concepção da escola
unívoca, com Howard Gardner ou outros, passaram a considerar-se diferentes
modos de se ser inteligente.
Poder auto-governar-se - mentalmente - é a acepção
de Robert J. Sternberg (1992, p. 168; 1997, trad. port. 2002, pp. 19-26).
Os modos de cuidar de si mesmo (governo) não sãocoincidentes; antes
implicam o que as pessoas têm no espírito (Sternberg, 1997, trad.
port. 2002, p. 19-20). Para Sternberg, as inteligências, modos preferidos
de pensar ou estilos de pensamento - auto-governo mental -
serão, também, formas de abordar o mundo e os seusproblemas
(ob. cit., pp. 22-24): monárquico, hierárquico, oligárquico, anárquico...
Existem, ainda, de acordo com o psicólogo referido, indivíduos globais
(dirigidos a questões vastas e abstractas) e locais (ob. cit.,
pp. 60-63).
Por sua vez, utilizar processosdistintos,
para faculdades díspares constitui a opção de DouglasDetterman
(1992, p. 76), para a sua apreensão de inteligência facetada.
Verifica-se, portanto, que desde a construção de testes,
no início do século XX, a problemática da sobredotação e da inteligência
têm vindo a interessar muito as pessoas. Adiante no tempo, em trabalhos
apresentados à UNESCO em 1948 e em 1971, Jean Piaget (1973) considerou
a inteligência como capacidade de invenção e de resolução de
problemas, ou seja, como um “sistema operativo” ou um conjunto de
"estruturas cognitivas" do ser humano, num dado momento de vida.
1.1. A preocupação de apoio a indivíduos com comportamentos
de sobredotação
Em círculos de investigadores e de pais muito implicados
na educação de filhos talentosos e/ou «muito inteligentes», é clássica
a abordagem de Joseph Renzulli (1986b), que impôs a teoria dos três
anéis à sobredotação, combinando a aptidão para algo, a criatividade
na realização e o empenhamento natarefa (motivação intrínseca).
A sobredotação foi também definida por Robert Sternberg (1991) como a
aptidão para usar as estratégias intelectuais básicas, aliada a
um alcance superior. Recentemente, Sternberg (1997, trad. port.
2002, p. ix) contrapõe o estilo de pensamento à aptidão,
dando àquele conceito reconhecido valor: Modos como preferimos utilizar
as aptidões que temos.
O valor conferido à «sobredotação» surgiu, mais propriamente
nos EUA, quando Dorothy Sisk (1981) editou um Annual Program Report
for the Office of Gifted and Talented, relatório elaborado em Washington,
pelo Departamento de Education. Mas já ao longo dos anos 70, tempos áureos
dos estudos criativos em países ocidentais -, muitos sobredotados foram
seleccionados e integrados em programas específicos, naquele país.
Nessa época, o Relatório de Sydney Marland (1972), antigo
director do Departamento de Educação dos EUA, considerou, pela primeira
vez, seis possíveis áreas de sobredotação (únicas ou passíveis de estarem
combinadas), em que quatro delas são categorias, que pretendem descrever
capacidades "de processo" e outras duas "de realização"/produto:
(1) capacidade intelectual geral (envolve capacidades relacionadas com
o pensamento abstracto, lógico e crítico, bem como elevadas compreensão
e memória); (2) uma aptidão académica específica (enfatiza a rapidez de
aprendizagem, para um desempenho excepcional na escola); (3) capacidade
de pensamento criativo ou produtivo (inclui o pensamento divergente, sendo
elaboradas e desenvolvidas ideias originais); (4) liderança (reconhecendo
lideres sociais ou académicos); (5) capacidade em artes visuais ou performativas
(sendo integradas, nesta categoria, as artes plásticas, musica ou literatura);
(6) capacidade psicomotora (destacável em indivíduos com óptimo desempenho
em actividades, que exijam rapidez, ou coordenação psicomotora).
Em 1976, o Congresso Americano eliminou os fundos
económicos para programas de sobredotação, somente na área psicomotora,
justificando-o a partir dessa área ser amplamente servida nos programas
escolares.
Sem dúvida, que o Relatório de Sydney Marland
constituiu um apoio efectivo à educação, em condições de existirem estudantes
sobredotados. De acordo com esse Relatório, apresentado em 1972, esperar-se-ia
encontrar entre 3 e 5% de sobredotados na população-alvo. Actualmente,
chegam a considerar-se existirem 5% a 15% de indivíduos sobredotados na
população. Entretanto, outros autores viriam a acrescentar a essas categorias
a sobredotação afectiva, por relação sensível a pessoas e a situações
(Salles, 1982). Por último, não é possível deixar de referir Howard Gardner,
o psicólogo vivo, que alcançou maior notabilidade, depois de Piaget, desde
que criou o conceito de "múltiplas inteligências" (Gardner,
1983), tendo por base sete modos dever o mundo, segundo
as seguintes categorias (Gardner, 1993c, pp. 22-29): (1) linguística e
lógica; (2) matemática; (3) espacial; (4) musical; (5) corporal-cinestésica;
(6) interpessoal; e (7) intrapessoal (ob. cit., pp. 73-276). Para Gardner
existirá já mais um modo diverso de sermos inteligentes – inteligência
naturalista (Gardner, 1995, cit. por Revista Patio-Pedagogia em destaque,
em rede) As janelas de inteligência abrem-se. Foi incluído esse
modo naturalista, próprio de biólogos, bioquímicos ou botânicos
e referido Charles Darwin, como um expoente nessa área. Pode-se inferir
(ou não) sermos únicos e partilharmos inteligências com outros:
«A inteligência naturalista refere-se à habilidade
de reconhecer e classificar plantas, minerais e animais, incluindo rochas
e gramíneas e toda a variedade de fauna e de flora. A capacidade em reconhecer
artefactos culturais, carros e ladrões, também se pode basear na inteligência
naturalista. (...) Algumas pessoas, desde a mais tenra idade, são muito
boas em reconhecer e classificar produtos manufacturados. Por exemplo,
todos nós sabemos que crianças de 3 ou 4 anos são melhores que a maioria
dos adultos, no que diz respeito ao reconhecimento de dinossauros» (Gardner,
1995; cit. por revista Pátio)
A janela espiritual ou experiencial é o derradeiro
modo de inteligência; tratar-se-á de uma meia inteligência,
não cumpridos os requisitos das outras oito inteligências (Walters &
Gardner, 1986; Gardner, 1993c, trad. bras. 2000, p. 46). E a inteligência
pictórica? De acordo com Gardner, essa não é uma inteligência, ainda que
agregue e venha a consumar laços entre a inteligência espacial, cinestésico-corporal
e intrapessoal.
Também não há inteligências artísticas e não artísticas (Gardner,
1993c, trad. bras. 2000, p. 46): Todos podemos usar uma inteligência,
de modo artístico e/ou científico.
Em suma, para Walters & Gardner (1986), assumida a opção
por Gardner (1993c, trad. bras. 2000, p. 37), a palavra inteligência não
é mágica e a sobrevalorização das áreas linguística, matemática
e lógica (ob. cit., p. 18) são o reflexo da nossa cultura ocidental e
da excessiva valorização de testes de inteligência (ob. cit., pp. 17-18).
Acresce, a crença do Ocidente americano no melhorismo, ou seja,
o entendimento, por convicção, na operacionalidade da ajuda de cérebros
na política de guerra dos EUA. Gardner acrescentaria: «Chamar algumas
(inteligências) de ‘talento’ e outras de ‘inteligência’ revela esse preconceito
(pedestais para inteligência lógica e linguagem, ênfase no QI e melhorismo).
Chame todas de ‘talentos’ se desejar, ou chame-as todas de ‘inteligência’.»
(ob. cit., p. 37).
1.2. A inteligência prática
Importa não esquecer ser necessária inteligênciaprática
– segundo um ou outro procedimento cognitivo: o tipo de problemas práticos,
que a pessoa comum, racional (ou irracionalmente) enfrenta, diariamente
(Krechevsky & Gardner, 1990). Também importa ensinar o que as pessoas
preferem fazer, mas de acordo com o seu estilo de pensamento (Sternberg,
1997, trad. port. 2002, p. x). Por exemplo, como pôr um rádio a
funcionar? «Como é que isto funciona?». Dando um exemplo concreto,
quando temos que aprender a pôr a trabalhar um aparelho eléctrico novo,
existem estratégias cognitivas particulares. Há pessoas que tentam, por
tacteamento, combinando a leitura do manual com um seu jeito particular
(inteligência cinética). Em casos extremos, certos indivíduos seguem rigorosamente
as instruções para chegarem a dominar o aparelho (inteligência linguística),
enquanto outros não têm método e tentam, quase sempre, aprender à sorte,
carregando em botões, aleatoriamente. Outras pessoas nem ousam arriscar
e afirmam, rindo: "Eu sou um desastre com máquinas." (CITÉ DES
SCIENCES ET DE L'INDUSTRIE, 1999).
2. Autistas Sábios
Na literatura da especialidade francesa, o termo «idiota»
- Quociente de Inteligência próximo de 25 – referiu-se, para considerar
uma pessoa não educável, mesmo com supervisão. Contudo, quando
a «idiota» se acrescentou «sábio» (Ajurriaguerra, 1970, trad. bras. 1983,
p. 699), ou seja, competente (learned one), passaram a tomar-se
em atenção pessoas brilhantes numa área como cálculo. De forma ainda tradicional,
Gardner (1993c, trad. bras. 2000, p. 14) entende por idiota sábio
(na acepção francesa, idiot savant) o indivíduo mentalmente
deficiente com um talento (ou inteligência) altamente especializado
em determinada área, tal como o cálculo rápido, memória ou execução musical.
Todavia, foi Bernard Rimland, em 1978, que passou a utilizar
a terminologia «autista sábio», a partir do seu artigo em revista Psychology
Today (Edelson, 1995).Teve um filho, Mark, pintor excepcional e autista.
Outra menina autista, Nadia (Selfe, 1977; cit. por H. Gardner, 1983, pp.
189-190), já foi aproximada de Rembrandt, mas ao começar a falar, já com
9 anos, perdeu essa competência. É possível que a linguagem, determinante
no desenvolvimento adequado, interfira com a capacidade de retratar o
mundo como se vê. Em alternativa, Gardner pensou tratar-se de predisposição
espácio-visual, comum a outros autistas sábios, que falam línguas estrangeiras,
jogam xadrez, ou cantam bem sem ajuda (Gardner, 1983, pp. 189-190).
Sem dúvida, que existem ilhotas sãs (Ajurriaguerra,
1970, trad. bras. 1983, p. 706), áreas de competência em certos autistas
- «autistas sábios». São cerca de 10% dos autistas (Grandin, 1995, trad.
fr. 1997, pp. 50-51).
2.1. O autista sábio e o enigma da inteligência
O enigma contraditório da
inteligência é, precisamente, o autista sábio. Não existe consenso na
explicação das suas competências mnésicas e cognitivas extraordinárias.
Serão eles - um dia - a permitir esclarecer muito mais o conhecimento
da memória ou da cognição?
Também Bernard Rimland (1971; cit. por J. Ajurriaguera, 1970,
trad. esp. 1982, p. 669) foi quem aproximou o paradoxo - a sobredotação
(capacidade específica congénita) e o autista sábio. J. Goodman (1972)
adoptou o mesmo termo não pejorativo, em atenção à competência em área
restrita, em ambiente inanimado. Sempre se conheceram (e continuarão a
conhecer) adultos cujas relações sociais, interesses e emocionalidade
não os afastam da criançagrande.
Podem adorar “bonecos” como Star Treks em 3 dimensões
ou kismets respondentes, ou seja, computadores, a que se pretenderam
acrescentar sinais emocionais, no Massachussets Instituteof
Technology – MIT, nos EUA. Temple Grandin (1995, trad. fr.
1997, p. 15) apaixonou-se por Star Treks, mas também por animais
e máquinas.
Pessoas como essa psicóloga
possuem uma complexidade intelectual soberba, ainda que a sua a linguagem
(pragmática, melodia e ritmo) possa ter sido reduzida na infância.
Lorna Wing (1981, p. 117) viu crianças com aquela síndrome
sujeitas a uma vulnerabilidadefrágil e a uma patética
infantilidade.
Enquanto, os memorizadores de dicionário serão igualmente
autistas, também se apostou mais, no século XX, na aptidão para o cálculo
ou para a mecânica (Ajurriaguerra, 1970, trad. bras. 1982, p. 671). Durante
a II Guerra Mundial, foram empregues dois matemáticos sábios –
autistas – pelo governo inglês (Pearce, 1988; cit. por L. Warren, 1996).
Também existem pessoas, mas muito poucas, capazes de responder à pergunta:
«Que dia da semana foi 22 de Maio de 1961?». «Segunda feira.». Essa é
uma memória de calendário. Outras pessoas, igualmente raras, serão
capazes de dizer os nomes ou aniversários daqueles que não vêem há muitos
anos. Podem, inclusive, ser incapazes de ler ou de escrever, ou de utilizar
essas competências com fluência.
Ficou conhecido nos media americanos o matemático
(calculador) Jerry Newport, um autista sábio (Perez & Correia, 2002,
pp. 51-54). Autêntico génio, ele apareceu primeiro num programa televisivo
americano – 60 Minutes. O seu dote matemático e de memória (não
sendo nem visual nem associativo), chamara a atenção de
muitas pessoas. Não conseguiu trabalhar, até deixar de se fazer acompanhar
por um papagaio. O momento de viragem na sua vida ocorreu (de acordo com
a sua performance televisiva), quando viu o filme Rain Man (Levinson,
1988), que conta a narrativa de vida de Kim Peek, outro autista sábio
(Perez & Correia, 2002, p. 53), capaz de memorizar estatísticas de
jogadores de futebol, a lista telefónica e de contar cartas em Las Vegas.
Nessa época, nem ia à casa de banho só, nem sabia o que comer ou vestir.
No filme, também é pedido a Raymond (personagem, representada pelo
actor Dustin Hoffman), que multiplique, mentalmente, 4,343 por 1,234.
Tal como o actor, Jerry respondeu alto e sem hesitar (antes daquele),
na sala de cinema: 5,359,262. As pessoas olharam-no e ele acrescentou,
admirado: «Oh! Eu sou autista.». Se possui uma memória de computador
(Gardner, 1983, trad. esp. 1993, p. 212), não possui afeição?
3. Morte cerebral programada
e competências superiores
A palavra, de origem grega, apoptosis,
traduz-se por apoptose, ou seja, morte cerebral de zonas encefálicas iniciais,
primitivas. Em inglês ou espanhol, mantem-se apoptosis.
Depois dos anos 70, concebe-se que para certos
períodos do desenvolvimento fetal, um feto masculino possui genes, que
provocam que o corpo da mãe produza testosterona fetal (hormona), influindo
no seu cérebro, «masculinizando-o» (Baron-Cohen, 1998). Noutros termos,
os níveis circulantes no feto dessa hormona masculina afecta (significativamente)
o processo de migração de células para o córtex cerebral, atrasando esse
processo. Níveis muito elevados de testosterona fetal implicam lentidão
na migração celular (Caldas, 2000, p. 28).
Assim sendo, as aptidões, talentos ou dons estão em
causa, antes do nascimento; são atrasadas partes do corpo em desenvolvimento
e aceleradas outras. Para além de gerar o comportamento sexual masculino,
o cérebro fetal «masculinizado» pode implicar a futura «superioridade
masculina», para questões espaciais (estruturação e orientação espacial)
e o seu atraso em termos linguísticos.
Todavia, o João lê qualquer palavra e alude ao nome de sinais
ortográficos, com uma pronúncia modulada. Decifra os símbolos, com uma
memorização visual muito eficaz. Por vezes, não compreende o que lê, o
seu significado.
Para o explicar em termos de apoptose, importa referir que,
durante o desenvolvimento fetal, no extremo superior do tubo neural, se
desenvolve o cérebro, com a forma de um bolbo, em espiral. Sete semanas
depois da concepção, são visíveis partes importantes do cérebro, incluindo
o córtex cerebral rudimentar. Assim sendo, ao desenvolvimento humano,
no cérebro imaturo do feto, a apoptose fortalece conexões entre células
funcionando, portanto, como uma poda sináptica.
4. Aproximação ao Síndrome de Asperger, referido o desenvolvimento
do João
Ao contrário da Mariana, o João é uma criança diagnosticada
como «sobredotada», aos 3 anos e 7 meses. Sem gatinhar, o menino andou
a partir dos 10 meses e, aos 12 meses, diria «mãe» e «pai». Em breve,
já seria capaz de repetir canção infantil - cantando - «Os três palhacinhos...»,
que a mãe lhe trauteava, embora não desenvolvesse a linguagem oral. De
todas as inteligências destacadas por Gardner (1993, trad. bras.
2000, pp. 15, 22-29), a inteligência musical é a que mais cedo
se deixa observar (ob. cit., p. 22-23). O mesmo autor, psicólogo e músico
enfatiza, que autistas não verbais (que não falam), podem tocar um instrumento
musical (ob. cit., p. 23). Já os vimos cantar bem, possuindo linguagem
limitada, na adolescência.
Posteriormente observado por uma das autoras, em situação
de consulta psicológica, em centro educativo (Jardim-de-Infância) e no
seu contexto primário de vida, o João foi identificado autista de tipo
Asperger: observaram-se comportamentos obsessivos e estereotipias,
anomalias «globais» (em português, pervasive não tem tradução
consensual) nocomportamento sócio-emocional e na comunicação
(McAlonan et al., 2002, 127, pp. 1594-1606).
5. No continuum considerado: Da síndrome autista
à síndrome de Asperger
A hipótese de existir um continuum no autismo é antiga:
E. J. Anthony (1967; cit. por J. Ajurriaguerra, 1970, trad. bras. 1983,
p. 675) ou E. Schopler e colaboradores (1971; cit. por J. Ajurriaguerra,
1970, trad. bras. 1983, p. 675) foram dos primeiros a adoptá-la.
O início do autismo é, geralmente,
mais precoce e o prognóstico futuro é menos promissor do que no caso de
diagnóstico de síndrome de Asperger (autismo de alta funcionalidade).
Na acepção clássica de van Kleverlen, o «autismo infantil precoce» observa-se
no primeiro mês de vida, enquanto a «psicopatologia autista» (como a síndrome
de Asperger)só se observa aos 3 anos, ou mais tarde. No primeiro caso,
a linguagem, quando ocorre, só vem depois do andar; no segundo caso, a
criança pode tentar comunicar de modo inadequado. Os problemas sociais
e de comunicação são, portanto, mais severos no autismo precoce e os interesses
circunscritos são menos notáveis. Em tais condições, o desenvolvimento
da linguagem de autistas afasta-se mais do esperado do que em indivíduos
do tipo Asperger (Grandin, 1995, trad. fr. 1997, p. 52).
Lorna Wing (1991) refere, que para o clínico van Klevelen,
em 1971, já o olhar foi considerado evitante em Aspergers,
ainda que não seja pobre, como em autistas precoces, para quem
as pessoas não existem.
Quando é realizado um teste de inteligência, o quociente
de inteligência (Q.I.) verbal revela-se menos elevado do que o Q.I. de
realização, o que corresponde ao inverso na Síndrome de Asperger. Globalmente,
as capacidades cognitivas, presentes em pessoas com essa perturbação,
são superiores às de autistas (ob. cit., trad. fr., p. 52).
Também, no autismo, se encontram modos menos desajeitados
e, finalmente, se as perturbações neurológicas são menos raras no autismo,
também as histórias familiares manifestam, que membros da família tiveram
ou têm vidas menos positivas (Folstein & Rutter, 1977).
Essas considerações, formuladas por Gillberg (1998), não
impediram Uta Frith (1991; Perez & Correia, 2002) de reconhecer um
toque ou ruídoautista na síndrome de Asperger.
5.1. Do autismo de baixa funcionalidade ao autismo de
alta funcionalidade
Enquanto autistas sábios e/ou autistas de baixa funcionalidade
vivem no seu próprio mundo, no autismo de alta funcionalidade vivem
no nosso mundo, mas à sua maneira (Van Krevelen, 1971; cit.
por L. Wing, 1991, p. 99).
A baixa funcionalidade em criança não impede, que o autista
venha a adquirir, mais tarde, na idade adulta, alta funcionalidade.
Na síndrome de Asperger, encontra-se a forma suave
e de alta funcionalidade do espectro autista (Gillberg, 1998; Bauer, 1996).
Contudo, é possível, que uma criança com a Síndrome de tipo Asperger (tal
como um autista de baixafuncionalidade) fuja e sofra danos por
condições sociais adversas.
5.1.1. Autismo de baixa funcionalidade
No limite, casos de autismo de baixa funcionalidade implicam
ausência de linguagem expressiva e baixa compreensão da linguagem. Indivíduos,
que nunca chegam a aprender a falar, têm perturbações neurológicas muito
graves, observáveis em exames neurológicos de rotina. Também neles se
observam mais casos de epilepsia do que em autistas de tipo Kanner ou
de tipo Asperger (Grandin, 1995, trad. fr. 1997, p. 53).
Assim como crianças de baixa funcionalidade nem sempre manifestam
quaisquer perturbações, até aos dois anos, nas «perturbações desintegrativas
do desenvolvimento», o desenvolvimento é normal (em termos de aquisição
pré-linguística e de comportamento social), mas só até essa idade. As
suas emoções podem ser sentidas de forma adequada, porque as regiões do
cérebro, que se lhes ligam, já tiveram tempo de se desenvolver até aos
2 anos (ob. cit., p. 55). A amígdala funciona desde o nascimento (LeDoux,
1996, trad. port. 2000, s/ data; cit. por R. Carter, 1998, trad. esp.
1998, p. 23).
Em tais condições psicopatológicas, as crianças podem deixar
de falar, de compreender o que se lhes diz e de poder atingir a realização
de gestos e hábitos quotidianos, precisando de viver em ambientes protegidos.
Tornam-se autistas de baixa funcionalidade, segundo Temple Grandin (1995,
trad. fr. 1997, pp. 52-53), uma autista de alta funcionalidade. Manifestou
problemas graves, mas logo desde o nascimento. Grandin aprendeu a falar
cerca dos 3 anos e meio, com ajuda de terapia da fala intensiva. Em casos
pouco comuns como o seu, houve melhoria sócio-emocional espantosa (passando
de baixa a alta funcionalidade), porque a mãe intuitiva e um professor
de ciências estimulante, (entre outras condições) a ajudaram. Programas
intensivos são aconselhados ao momento da perda da linguagem. Posteriormente,
por vezes, programas mais calmos (sem sobrecarga sensorial) são
preferíveis (ob. cit., p. 53).
Tal como em outras síndromes, quanto mais tardia é a regressão,
pior será o prognóstico.
6. Enquadramento nosológico e nosográfico das duas síndromes
Testar é um processo estático, por contraponto a avaliar
(dinamicamente), dito que implique compreensão do outro e interpretação
(inter)subjectiva.
Não existem testes médicos para o diagnóstico de autismo.
Para o estudo actual, o João também não pode ser testado por meio de instrumentos
habituais de avaliação da inteligência. Não colabora. Outras crianças
têm lesões muito graves, impeditivas de avaliação formal. Em bebés, muitos
testes não fornecem (nem pretendem fornecer) valores de Q.I..
Com os Perfis Funcionais de Desenvolvimento (Palha et al.,
2001; Vieira et al., 2001), adiante expostos, pretende-se clarificar enquadramentos
nosológicos difundidos. Como foi apresentado, com o DSM IV (APA, 1994)
retomou-se a concepção de Hans Asperger, um pediatra vienense, sobre certos
indivíduos observados em 1944. Por seu lado, Gillberg (1998) e Szatmari
(1991, cit. por S. Ehlers & C. Gillberg, 1993) conceberam critérios
distintivos úteis.
Por acréscimo, a avaliação por Perfis funcionais
ultrapassa o recurso tradicional a Testes e Escalas de Desenvolvimento
clássicas: Escalas Bayley de Desenvolvimento Infantil, Escalas
Cattell de Inteligência para Crianças... Essa é a alternativa actual,
nomeadamente, para a avaliação da linguagem, como as Escalas de Desenvolvimento
da Linguagem de Joan K. Reynell (1977), dirigidas a crianças dos 6 meses
aos 6 anos. Um Perfil Funcional constitui um modelo, considerado função
a função, em que é possível observar a rapidez do desenvolvimento, desde
que sejam seguidas as sequências desenvolvimentais conhecidas. Nessa abordagem,
a intervenção decorre de avaliação compreensiva.
Nos perfis desenvolvimentais, nem sempre se colocam diferenças
nítidas, entre as duas síndromes. De acordo com o quadro adiante apresentado,
as únicas divergências persistentes, nas duas síndromes, situam-se nas
funções de cognição verbal e não verbal (CV e C nV).
Áreas de Desenvolvimento
M G
M F
S
A
C V
C nV
Síndrome de Asperger
NQV
NQV
Q¥
Esp.¥
N
N
Síndrome Autista
NQV
NQV
Q¥
Esp.¥
N¥
Legenda:
M G - Motricidade global A
- Autonomia
M F - Motricidade fina
C V - Cognição verbal
S - Socialização C
nV - Cognição não verbal
N - normal, convencional. ¥
- perturbação quantitativa; em défice; deficitário; baixo.
Q - perturbação qualitativa.
V - muito variável, dependendo de múltiplos factores.
Esp - Específico, peculiar.
As áreas consideradas
(funções), são motricidade global (MG), motricidade fina (MF), socialização
(S), autonomia (A), cognição verbal (C V) e cognição não verbal (C nV)
Para a motricidade, tanto a função MG como a função
MF permitem registarem-se avaliações «normais» (de acordo com a convenção
estatística - N), ainda que sujeitas a perturbações qualitativas (Q) e
muito variáveis, dependendo de múltiplos factores.
A função socialização (S) indica esta não ser adequada,
por perturbação qualitativa (Q) e perturbação quantitativa (em défice;
deficitária; baixa), simbolizada por seta dirigida para baixo.
Por sua vez, a categoria A – função autonomia - obedece
à própria especificidade (Esp) de uma criança em contextos diversos e,
novamente, a seta é dirigida para baixo.
A função comunicação verbal (CV) distingue, como se
disse, as duas síndromes. Na síndrome de Asperger, tende a ser «normal»
(ou «superior»), enquanto na síndrome autista se observa perturbação quantitativa
assinalável por seta.
A função comunicação não verbal (C nV), novamente
«normal», para os indivíduos com o síndrome Asperger, é «normal» ou quantitativamente
«baixa», na síndrome autista.
Também existem estudos da linguagem nas duas síndromes.
Trata-se da capacidade de comunicar pela palavra, por recurso a certos
órgãos do corpo. A fala tratará antes da utilização individual de fonemas,
palavras e regras gramaticais de uma língua.
Se atendermos à linguagem, nos Perfis Funcionais de Desenvolvimento,
são discriminados o Estádio Pré-Linguístico (até aos 30 meses) e o Estádio
Linguístico complexo (depois dos 30 meses), sendo associadas áreas de
desenvolvimento cognitivo (jogo, atenção, imitação) e áreas afectivas
e sócio-emocional (para com pais, pares ou o avaliador).
No Perfil funcional, constituem itens do Estádio Pré-Linguístico
condições desenvolvimentais de linguagem compreensiva/receptiva (função
LC), como o entendimento de «não», «adeus», nome próprio, palavras em
contexto, nomes familiares, acções simples, ou respostas a perguntas como
«Onde está o ...?». Contrapõem-se a LC certos critérios LE, não verbais
(olhar para um objecto mencionado ou realizar algo convencional com um
objecto).
Se nos fixarmos nas funções (sujeitas à discriminação em
itens) LC e LE, para observar crianças autistas ou crianças com a síndrome
de Asperger, com mais de 2 anos e meio, captamos divergências globais.
Quando adquirem a linguagem, essas crianças têm, muitas delas, mais de
3 anos e meio.
No Estádio Linguístico, de LC, a compreensão de questões
(«O que é...?», «O que está a fazer...?», «Onde está?», «Como...» ...)
inclui itens relativos ao fornecer explicações a questões não compreendidas.
Por sua vez, nesse Estádio, de LE exige a utilização de repertório
lexical, tal como termos de contraste (ex.: mais e menos), pronomes (ex.:
meu, eu, tu, isto...), ou advérbios (ex.: aqui, ali). As relações semântico-sintácticas
pressupõem a construção frásica (ex.: sujeito, verbo, complemento, ou
a utilização de diferentes tipos de frases (ex.: declarativas, exclamativas,
interrogativas e imperativas). Para a produção do discurso, os processos
fonológicos, que o Perfil funcional contempla, podem ser enunciados: produção
de grupos consonânticos, estrutura silábica adequada de frases e perturbações
(delecção, assimilação e substituição). Não é eliminada, para o modelo
actual de Perfis funcionais, a fluência, articulação e inteligibilidade
do discurso, durante a avaliação linguística. Outros exemplos podem ser
dados, no que se refere a aspectos de desenvolvimento linguístico pragmático,
para avaliação: conversação mais ou menos prolongada; declarações espontâneas,
por resposta e contingentes; início, manutenção e finalização de assuntos
(do passado, do presente e do futuro), acrescentada nova informação; contar
histórias...
Pode ser construído um esquema similar ao dos Perfis funcionais,
anteriormente analisados:
Linguagem Compreensiva (LC)
Áreas de
desenvolvimento
Semântica
Consciência
Fonológica
Morfo-Sintaxe
Pragmática
Síndrome de
Asperger
NQ
NV
N
NVQ
Síndrome
Autista
¥
¥
¥
¥
Linguagem Expressiva (LE)
Áreas de desenvolvimento
Fonética
Léxico
Morfo--Sintaxe
Semântica
Consciência
Fonológica
Pragmática
Discurso
Síndrome de Asperger
NV
N
N
NQ
NQ
NVQ
NQ
Síndrome Autista
NV
¥
V¥
¥
¥
¥
¥
Legenda:
N - normal, de acordo com convenções estatística e clínica.
Q - perturbação qualitativa.
V - muito variável, dependendo de múltiplos factores.
¥ - perturbação quantitativa; em défice; deficitário;
baixo.
De acordo com o Perfil funcional de avaliação considerado,
observa-se que a LC integra os parâmetros seguintes: (1) semântica;
(2) consciência fonológica; (3) morfologia-sintaxe; e (4)
pragmática.
Na síndrome de Asperger, são favoráveis as condições, que
conduzem à apreensão de «normalidade» (N), na LC, ainda que sujeita a
perturbação qualitativa (Q) e a factores intervenientes, variáveis (V).
Na condição LE, agrupam-se itens relativos às seguintes categorias
linguísticas: (1) fonética; (2) léxico; (3) morfo-sintaxe;
(4) semântica; (5) consciência fonológica; (6) pragmática;
e (7) discurso.
Novamente, a «normalidade» está sempre presente na síndrome
de Asperger, o que não acontece com a síndrome autista, sujeita a perturbação
quantitativa assinalável.
7. Caracterização comportamental da síndrome de Asperger
no João
Existem e existirão sempre crianças com comportamento sócio-emocional
e ético não convencional, observáveis: peculiares, estranhas, bizarras,
excêntricas ou idiossincráticas.
Foi analisada a comunicação e o agir do João. Existem várias
Escalas de apoio ao diagnóstico: a antiga Childhood Autism Rating Scale
de Eric Schopler, o Checklist for Autism in Toddlers de Baron-Cohen
(dirigido a bebés de 18 meses), o Screening Test for Autism in
Two-Year Olds (dos 2 anos), o Autism Screening Questionnaire
(orientado a crianças com mais de 4 anos). Na observação da criança de
4 anos, utilizou-se a escala com que temos trabalhado mais, identificada
como Autistic Behavior Interview - ABI (Entrevista sobre o comportamento
autista) de I. L. Cohen e colaboradores (revisão de 1993). Tratam-se de
profissionais da Division of BehavioralAssessment and Research
do New York Institute for Basic Research in Developmental Disabilities.
Como pudemos constatar, registam-se no João dificuldades
na expressão emocional (tristeza, alegria, irritação...), antes dos 5
anos, sendo as birras frequentes.
O menino não gosta da atenção de adultos, que queiram brincar.
Prefere olhar movimentos a rostos humanos familiares, por dificuldade
no seu reconhecimento - prosopagnosia. Essa limitação, resulta de uma
lesão, em geral bilateral, dos lobos occipitais (Caldas, 2000, p. 270).
Ele dedica-se a acções, também repetidas. Podem dar-se exemplos
desses actos o olhar a máquina de lavar roupa a lavar, o disco/CD a girar,
o pêndulo a baloiçar, a hélice de avião ou ventoinha a rodar, o lençol
a ondear, o insecto a voar... A criança gosta de fixar, inclusive, luzes
ou objectos brilhantes, em vez de se divertir como outros da sua idade:
lâmpadas a acender e a apagar de ambulâncias, faróis acesos, espelhos
ou superfícies reluzentes. Selecciona desenhos e símbolos gráficos, novamente,
muitas vezes seguidas: bolas, nomes de pessoas... Chega a manifestar interesse
desmedido por números e/ou letras, para contar (horários, datas, tabuadas,
fórmulas).
É conhecido que Albert Einstein (1879-1955) se viria a fixar,
noites e noites, no estudo da fórmula da relatividade, sem dormir. O escritor
Georges Perec (1936-1982) coleccionou catálogos de objectos e o escritor
José Régio (1901-1969) possuiu uma colecção de arte popular e de santos
invejável. Outros indivíduos serão leitores - «enciclopédias ambulantes»
- hiperléxicos autistas de tipo Kanner ou de tipo Asperger. Raramente
identificados como «Aspergers», são os adultos, que fazer zapping
televisivo, longo tempo, depois do trabalho.
8. Desenvolvimento linguístico normal, hiperlexia e dados
de observação no João
A janela linguística da inteligência desenvolve-se
muito do nascimento aos 10 anos. Essa é uma época de graça. O mesmo
timing foi proposto para o domínio sonoro e musical. Ligeiramente
deslocada no tempo é a inteligência lógico-matemática, que se potencia
entre o anos e, também, os 10 anos.
Em termos neurológicos, é aos 2 anos, que os lobos pré-frontais
começam a ser mielinizados, aspecto determinante para a linguagem. É desde
então, que o "Eu" está pronto para actuar: a criança começa
a reconhecer-se no espelho; não limpa o espelho (como os mais pequenos),
para tirar a sujidade da sua própria cara. A consciência, que a criança
possui de si mesma entra em acção.
Muitas áreas do cérebro demoram imensos anos a "amadurecer"
(a serem mielinizadas): a formação reticular, só na adolescência deixa
o jovem poder concentrar-se por mais tempo; os lobos frontais estão prontos
na idade adulta... Parece que os adultos, por conseguinte, levam a
melhor no controlo emocional e no controlo das suas pulsões/impulsos.
De facto, as emoções são expressas pelas crianças por formas
que os adultos dificilmente alcançam, em intenso dramatismo. Nelas ainda
não estarão activados os mecanismos de emoções conscientes, sendo as suas
emoções "inconscientes". Daí a sua força e expressividade.
Os traumatismos psíquicos não as afectam? Segundo Rita Carter
(1998, pp. 22-23), as emoções inconscientes podem não ser "experiências",
ainda que se fixem no cérebro. O que também acontece é que não temos recordações
até aos 3 anos, porque o hipocampo ainda não "amadureceu". Todavia,
será a amígdala a desempenhar um papel crucial desde o nascimento.
Assim colocado, existem múltiplas facetas "desvendadas"
pela nova ciência - neurociência, que tanto mostram como permitem explicar
que o fundamento inato e o suporte adquirido se interpenetram.
8.1. Hiperlexia em autismo, síndrome de Asperger e perturbação
da linguagem
Ler pode ser definido por um autista de alta funcionalidade
como agarrar os dados, ou seja, uma forma de aquisição de conhecimento.
Ler também pode ser associado por Grandin (1995, trad. fr. 1997, p. 41)
ao programar um computador (cérebro).
Uma criança hiperléxica é aquela que lê precocemente (entre
os 2 e os 4 anos), podendo chegar a ler palavras em qualquer posição,
até mesmo de cabeça para baixo. Aos 5 anos, a hiperlexia coexiste, por
vezes, com dificuldades na comunicação verbal e na interacção social (Marcovitch,
1997; American Hyperlexia Association, 1996 - Elmhurst, Illinois,
EUA; Miller, S.; sem data). A hiperlexia foi associada, em certos casos
raros, à perturbação de Asperger (APA - DSM IV, 1994, trad. bras. 1995,
p. 74).
Há mais de 30 anos, que a hiperlexia foi identificada, em
crianças tomadas por enciclopédias ambulantes. As psicoterapias
foram exploradas muito depois. Mal socializadas e capazes de fugir por
caminhos conhecidos, certos hiperléxicos não conseguem cavaquear ou acertar
o passo ao dançarem slows. Por vezes, tornam-se tiranos e inflexíveis
à mudança de rotina. Sem dúvida, que possuem recursos individuais a explorar,
como todos nós gostaríamos de possuir: concentração e atenção extremas
face a estímulos, conhecimentos aprofundados... Todavia, podem não ser
testáveis, embora sempre sejam avaliáveis. Nem são testáveis
as crianças, que não colaborem em avaliação ou que sofram de lesão muito
grave, nem são testáveis bebés, cujos instrumentos habituais de
avaliação de inteligência não pretendem uma identificação de Q.I. Alguns
são tão ansiosos, que rodam e torcem objectos, agitam as mãos e são medicados.
A certas crianças como essas, o nível visual
(instantâneo) permite-lhes ler palavras dificílimas (pensamento mediado
visualmente e associativo), com uma pronúncia excessivamente modulada.
Em outros meninos é a forma global das palavras a impor-se. Existem também
condições mistas: à decifração fonética (analítica) alia-se a visualização
eficaz. Se algumas possuem um bom nível de reconhecimento de letras, podem
não compreender palavras agrupadas ou abstractas. Se essas crianças lêem
«paz» ou «honestidade», podem não compreender o que lêem, exigida abstracção.
Os hiperléxicos podem ser autistas, ou podem ser identificados
como Aspergers, ou ainda, podem ser portadores de uma perturbação
global de desenvolvimento, não especificada de outro modo. Os hiperléxicos
autistas apresentam atraso de linguagem (Gillberg, 1998); os Aspergers
atingem inteligência «normal» ou «superior» (ob. cit., 1998). Por sua
vez, os indivíduos, que sofrem de uma perturbação global de desenvolvimento,
sem causa específica, não se aproximam dos critérios linguísticos ou cognitivos
anteriores. Existem, ainda, crianças hiperléxicas com perturbação de linguagem
(tendo dito as primeiras palavras, sem atraso, entre o ano e o ano e meio).
8.2. Aprofundamento de Estudo de Caso: Linguagem oral
e leitura do João
A linguagem do João não alcança a frase comunicativa (comum
aos 3 anos) e não é utilizada, quase aos 5 anos, a inversão pronominal
(«eu» e «tu»). No entanto, o menino lê - as letras servem à (des)codificação,
simplesmente. As palavras não têm valor de uso (pragmática). Não lhe são
interessantes as histórias, que outros lhe lêem. Não se fascina, para
ficar horas com um livro na mão, mas folheia-o, lendo os números de páginas.
Lê, simplesmente, de modo compulsivo. Letras e números também não são
evitáveis nos contextos em que sejam visualizados. Estãoali.
Têm que ser lidos. Essas competências foram detectadas entre os
18 e os 24 meses, por reconhecimento de símbolos. Aos 3 anos, a criança
juntava letras, em qualquer situação (à volta da televisão, no jornal...),
com qualquer formato (dactilografadas, manuscritas, maiúsculas, minúsculas).
Ele não lê, sem que as letras estejam colocadas, correctamente. Portanto,
mesmo antes de falar tão bem como outras crianças, o João começou a ler.
Não foi ensinado a ler.
9. Condições de aprendizagem do João
Ainda antes dos 2 anos, o João poderia saberas
cores todas. A mãe pensa que o menino também aprendeu os números
antes de aprender a falar. Aos 24 meses, continuaria a dizer pouco
mais do que «mãe», «pai» e o número sete. Entretanto, terá pedido um computador,
bastando-lhe ver o pai teclar, para saber fazê-lo, de novo, nas
palavras da mãe. Já nomearia os números até 30 (por ordem directa e inversa),
observação essa realizada pelo pai. Aos 30 meses, começou a ler títulos
de revistas femininas e os nomes da lista telefónica em um telemóvel
de familiar afastado. Tapa os ouvidos ao entrar em elevador, por informação
materna, após terem ambos ficado presos no elevador do seu prédio. Tem
outros medos, em particular de sanitas, onde não chega a sentar-se, retendo
as fezes. Teme o escuro e fixa-se em interruptores, que acende e apaga.
Em Julho de 2002, não deixaria de gritar, ao escutar anúncios televisivos
(ex.: Cerveja Imperial), ou até mesmo as músicas, que anunciam
os Telejornais. Teme ser levantado no ar, em sensação de desequilíbrio
e prazer. Pede diariamente revistas, somente por si escolhidas, como a
TV Guia. Lê na televisão muitos spots publicitários (entretanto,
deixando de os apreciar) e parte das legendas. Com intensidade, vive contos
e tem pesadelos relacionados com desenhos animados que gosta, embora a
mão não os julgue adequados. Utiliza ecolálias por resposta a perguntas
directas e ecolálias diferidas (palavras ou expressões verbais repetidas
dias depois de as ouvir), com base em expressões de concursos televisivos.
Em Julho de 2002, terá perguntado, espontaneamente, «Avó, não tens dedos
na mão?», depois de esta ter mão ligada, por queimadura (v. noção de constância).
No ano de 2002 deixou de cantar, até a canção «Parabéns a você», passando
também a rejeitar ouvir cantar. Mais tarde, já voltou a cantar aquela
canção sozinho, em festas. Gritava, em Janeiro de 2002, quando ouvia a
voz do apresentador Jorge Gabriel na televisão, o que deixou de ocorrer.
Em Julho de 2002, passou a interessar-se por uma bola em movimento, o
que rejeitava. A mãe afirmou sentir-se muito feliz por esse avanço.
Continua a interessar-se por objectos com botões para carregar e a apreciar
puzzles e brinquedos com escorregas. Chegou a pretender que a mãe
o levasse a lojas, para comprar brinquedos, logo explorados e arrumados.
Brincasem brincar, sozinho, mas pode gostar da presença
de uma pessoa adulta (pai, mãe, tia materna...).
Para a mãe, o João lidera o grupo de crianças de 4 anos,
não seguindo instruções. Na escola, recentemente, vimos que costuma ser
guiado por menina, da sua idade, com atraso global no desenvolvimento.
Ela acarinha-o e condu-lo. Ele encolhe-se ou afasta-a, com suavidade.
Não gosta de sair do Jardim de Infância. Prefere
estar na sala de actividade. O menino possui uma orientação espacial muito
boa. Fala, quando quer algo e, logo se abstrai do que se passa à sua volta,
dirigida a sua atenção para algo diferente. Memoriza aspectos decorrentes
de leitura ou observados na televisão. Desde muito cedo, realiza puzzles
complexos. Observa e refere o que ninguém vê. Pode repetir 4 dígitos,
em ordem directa.
Médicos já afirmaram poder ser um «exótico», um
futuro engenheiro informático ou, até mesmo, um poeta talentoso. Encontram-se
crianças, como o João, com facilidade e interesse por números, depois
sinalizadas como «génios» - pessoas com um desempenho superior
em áreas muito especializadas, manifesto tarde (Grandin, 1995, trad. fr.
1997, pp. 203-217). Possuem, em geral, óptima memória visual como van
Gogh e/ou auditiva como Bela Bartok ou Wittgenstein. Einstein afirmou
sempre ser o seu pensamento de tipo visual (Patten, 1973).
Discussão final
É possível, que o João não venha a tornar-se um autista de
alta funcionalidade, mas também não adiantámos da possibilidade de ele
poder tornar-se um matemático sábio. Ainda com 4 anos, não será possível
dizer onde a criança poderá chegar, atendendo às condições de meio menos
favoráveis.
Certas estratégias e exigências à criança têm vindo a ser
adoptadas (William, K., 1995; Fritz et al, sem data): (1) discurso e instruções
simples e directas (excepto para tarefas complexas, sinalizadas por imagens);
(2) exigência de clara compreensão manifesta pela criança ou intervenção
repetida do adulto para a atingir; (3) explicação da valorização de contacto
visual, tal como outras expressões de competência social; (4) utilização
de palavras cantadas, quando a criança parecer não ouvir; (5) limitação
das escolhas da criança a duas ou três; (6) limitação a tempo fixado de
interesse por tema; (7) sugestão de outras actividades, envolvendo interacção;
(8) introdução progressiva de flexibilidade em rotinas; (8) aceitação
de comportamentos não esperados, de acordo com a idade; (9) chamada de
atenção para algo, em situações de ansiedade; (10) ignorância de comportamentos
problemáticos; (11) cumprimento de promessas ou castigos; (12) «ensino»
de acto de respirar fundo e contagem até 20 (ou pedido futuro a alguém
para se afastar, quando ocorra «irritação»); (13) «ensino» da diferença
entre locais públicos e privados, para a aquisição de regras sociais (complexas);
e (14) garante permanente de amor e ternura.
Foi acentuado, em contacto com centro educativo (Jardim-de-Infância)
que, para crianças como a apresentada no estudo, os contextos de vida
(e escolares) deverão ser previsíveis, oferecendo rotinas diárias consistentes,
sem surpresas (anunciadas) (William, K., 1995, em rede).
As escolas não valorizam todas as inteligências e as “maneiras
de pensar” - estilos de pensamento - da mesma forma, sendo os estilos
não coincidentes com as valorizações do ensino formal, logo penalizadas.
Enquanto, para Robert Sternberg (1997, trad. port. 2002, p. 8), uma aptidão
mostra até que ponto uma pessoa é capaz de fazer bem algo, o estilo
reporta-se ao gostar de fazer essa coisa. Alunos têm estilos
de pensamento diverso de professores e têm insucesso (ob. cit., 1997,
trad. port. 2002, pp. 9-18).
Existem, portanto, estilos de pensamento
(ob. cit., 1997, trad. port. 2002), processos cognitivos de aprendizagem
e modos pessoais para se aprender (CITÉ DES SCIENCES ET DE L'INDUSTRIE,1999,
pp. 9-13). A certas pessoas pertencem palavras, com que reflectem
melhor, para si mesmas («Vá lá! Vais ver que consegues.»). A outras pessoas,
cabem sonhos ou imagens nos seus raciocínios, como o chegou a afirmar
Henri Jules Poincaré (1854-1912 em obra Science et méthode (s/
data, pp. 50-54). Albert Einstein (1879-1955) foi outro grande cientista
a reconhecê-lo em si próprio. Por outra via, existem pessoas, que aprendem
a "pensar" com sonoridades, ou a partir de ambientes propícios.
Certas pessoas pensam, dissociando, ou seja, enquanto realizam uma tarefa
mecânica, como riscar em papel. Outras chegam a ter que andar, para pensar
"melhor".
O ideal humano é desenvolver várias inteligências. A predominância
de uma inteligência, durante a infância, não pressupõe a lacuna de outras.
Por exemplo, as competências (inteligências) necessárias para ser um bom
violinista, pelo menos, abrangem a inteligência musical, corporal-cinestésica,
interpessoal (para comunicar com o seu público) e, provavelmente, intrapessoal.
Para ser uma boa bailarina, no mínimo, são necessárias as inteligências
corporal-cinestésica, interpessoal e espacial. Para ter uma boa carreira
política, constitui uma exigência básica, possuir-se as inteligências
interpessoal, linguística e lógica. É possível que numa pessoa não se
manifeste uma inteligência deveras “superior”. No entanto, devido a possuirmos
uma certa combinação de inteligências, essa pessoa mostrará apetência,
para uma carreira específica ou única. Observa-se, por vezes, que a trajectória
desenvolvimental de um indivíduo talentoso depende da sua inteligência.
Crianças, que manifestam inteligência musical ou matemática, desde muito
cedo, não vão desenvolver (necessariamente) as suas capacidades a nível
«superior» na juventude. Por outro lado, as inteligências interpessoal
e intrapessoal desenvolvem-se mais tarde e de uma maneira mais lenta.
Os indivíduos sobredotados, numa área de inteligência, não são (necessariamente)
sobredotados, numa outra inteligência.
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