A investigação, que nos propomos apresentar, foi realizada com base num
inquérito por questionário sobre os meios de comunicação tecnológicos
utilizados pelos Educadores de Infância, em Jardins da Rede Pública.
A partir da análise dos resultados desta investigação procuramos reflectir
sobre a utilização que aqueles docentes atribuem aos meios de comunicação,
na sala de aula.
Para o efeito utilizamos as variáveis: Habilitação Acadêmica, Tempo de
Serviço, Formação Contínua, para verificar se estas, condicionavam, quer
a frequência de acções de formação, no âmbito dos meios de comunicação
tecnológica, quer a sua integração na acção docente curricular.
Começaremos pois por caraterizar a nossa amostra do ponto de vista da:
- Habilitação Acadêmica
Na habilitação académica da amostra dos inquiridos do Ensino Pré-Escolar,
temos 6,20% com formação de grau Médio, 83,44% possui formação com grau
de Bacharelato, 8,50% com grau de Licenciatura e, apenas, 0,22% possuem
grau de Mestre. A esta questão 1,60% dos inquiridos não responderam.
- Tempo de serviço
A maioria dos indivíduos da amostra deste grupo situa-se entre os 11
a 20 anos de serviço com a percentagem de 62,30%.
Entre 1 a 5 anos temos uma percentagem de 6,21%, dos 6 aos 10 anos a percentagem
é de 25,75% e, finalmente, com mais de 20 anos de tempo de serviço temos
6,21% de educadores.
- Formação Contínua
A esmagadora maioria (98,62%) dos educadores inquiridos frequentou acções
de formação contínua; contudo, no que se refere a acções de formação no
âmbito dos meios audiovisuais e informáticos, as percentagens de frequência
vão desde os 2% aos 25,29%.
As três acções de formação mais frequentadas pelos educadores foram,
respectivamente: Programas informáticos, com 25,29%; Transparências /Acetatos,
com 17,01%, e em diapositivos/slides, com 14,43%.
- Os meios de comunicação tecnológicos no currículo
Os objectivos das diferentes áreas e conteúdos dos mesmos têm como base
o referente das Orientações Curriculares (1997) e o Projecto Curricular
do Educador, no qual deverá existir uma dimensão técnológica na bagagem
cultural para todas as crianças afim de evitar desequilíbrios na etapa
seguinte na escolaridade obrigatória. O conhecimento dos materiais e recursos
tecnológicos ajudará à concepção da organização do projecto por parte
dos educadores e facilitará diversificação da expressão e representação
de idéias dos educandos.
- A totalidade da amostra
Verificamos que do total da amostra (435) de inquéritos recolhidos, no
item sobre a frequência e o grau em que utilizam os meios audiovisuais
e informáticos nas suas actividades curriculares, não atingem os
34%. Apenas em dois items, área de Matemática e área de Ciências da Natureza,
atingem respectivamente 33,10% e 30,80% de respostas. Analisadas estas
respostas, por item e grau, constatamos que mais de 60% dos inquiridos
não utiliza com frequência os meios de comunicação tecnológica na sua
prática curricular.
As respostas, por grau de utilização em cada área curricular, não ultrapassam
os 34%, e verificamos uma grande dispersão de respostas pelos referidos
graus.
As percentagens que acabamos de referir, são paradigmáticas da complexidade
que caracteriza a integração curricular dos meios de comunicação tecnológicos,
isto porque se analisarmos o total da amostra, considerando as respostas
por área curricular, e não por grau, constatamos que as que apresentam
claramente a maior média superior ao ponto médio (3), são respectivamente,
com média de respostas 4,13(Desvio Padrão=0,86) a área das Ciências da
Natureza e 4,04 (Desvio Padrão= 0,92) a área do Estudo do Meio; quanto
as respostas por grau, o maior número corresponde à área de Matemática
e à área das Ciências da Natureza. As áreas curriculares referidas a Matemática,
Estudo do Meio e Ciências da Natureza são as três áreas cuja média de
utilização é maior, independentemente do número de respostas por item.
No que toca às actividades curriculares verificamos, ainda, que na generalidade
os Educadores da Educação Pré-escolar, vão integrando os meios tecnológicos
na sua planificação de conteúdos e metodologias motivadoras, mas que
apenas a área de Ciências da Natureza tem número de respostas crescentes
de acordo com o grau de importância até ao nível 5. Há um padrão de comportamento
dos docentes em crescendo, na utilização dos meios de comunicação tecnológicos
até ao grau 4, com a excepção de três áreas, a saber: Expressão e Educação
Físíco-Motora, a Expressão e Educação Plástica e a Educação Moral e Religiosa
Católica que a partir do ponto médio (3) decresce a opinião sobre o grau
em que utiliza os meios.
Para melhor caracterizar a distribuição das respostas referiremos que
a opinião dos responsáveis pelo preenchimento sobre a percentagem na escala
de graus 1 (muito pouco) a 5 (muitíssimo) para a atribuição de importância
ao uso que atribui aos meios tecnológicos nas diferentes áreas situam-se
até aos 15% para o grau 1, entre 5% e os 15% para o grau 2, entre os
10% e os 30% para o grau 3, entre os 10% e os 35% para o grau 4 e, finalmente,
para o grau 5 entre os 5 % e os 35%. Verificamos que a menor amplitude
de respostas se verifica no grau 2 e a maior amplitude de respostas se
verifica no grau 5.
- Educador de Infância e Habilitações Académicas
Seleccionamos na nossa amostra as variáveis: Educador de Infância e
habilitações académicas, em simultâneo. Ao introduzimos como variável
as habilitações académicas para verificar se o nível de habilitação condicionava
a utilização e a mediação que os docentes faziam dos meios audiovisuais
na sua prática pedagógica verificamos que:
As únicas ocorrências dignas de registo têm a ver com o facto dos Educadores
com formação de grau médio apenas utilizarem acima dos 50%, para a função
de sensibilização ao tema, o flanelógrafo e filmes; a frequência com que
utilizam os meios audiovisuais e informáticos nas outras funções didácticas
propostas são sempre em número inferior.
Os Educadores com formação académica de licenciatura são os que utilizam
com maior frequência os meios audiovisuais e informáticos nas funções
didácticas propostas. O maior número de frequências regista-se na função
de sensibilização ao tema com a utilização do flanelógrafo, fotografias,
observações microscópicas, filmes, videogramas e programas informáticos;
para a apresentação de conhecimento/conteúdos a maior frequência de utilização
dos meios são o flanelógrafo e os filmes; para modelo /representação,
é o quadro e na função de Comunicação e difusão de informação, temos,
mais uma vez, o flanelógrafo e as observações microscópicas. Verificamos
que a frequência com que os docentes dizem utilizar os meios para as diferentes
funções que enunciamos se situam na generalidade abaixo dos 50% e que
na função de síntese não há valor nenhum que atinja os 50%. Curiosamente,
os Educadores de formação média e bacharelato só utilizam meios de comunicação
tecnológicos acima dos 50% na função de sensibilização ao tema , mesmo
assim restringe-se ao flanelógrafo e a filmes; os docentes que possuem
formação de nível médio e formação de nível de bacharel acrescentam aqueles
as observações microscópicas. Os Educadores com formação de nível médio
e de bacharel só utilizam em maior número de frequência os meios audiovisuais
e informáticos para a função de sensibilização; todas as outras funções
são utilizadas em menor número nunca chegando aos 50% .
- Educadores / Tempo de serviço:
Verificamos que a variável tempo de serviço não influencia a utilização
dos meios audiovisuais e informáticos, porque dos meios utilizados em
maior número a saber: quadro, cartaz, microscópio, vídeo-gravador, câmara
de vídeo, televisão, livros, jornais e computador são comuns aos docentes
com os diferentes tempos de serviço.
A percentagem de utilização do computador é superior pelos docentes até
aos 20 anos de serviço, (com mais de 80% de uso), mas os docentes com
tempo de serviço superior a vinte anos têm também uma elevada taxa de
utilização (77,78%) do computador. Verificamos que o maior número de acções
de formação frequentadas por este grupo é precisamente em programas informáticos.
Utilizando como critério o tempo de serviço verificamos que os Educadores
até 11anos de serviço frequentaram em maior número de acções de formação
em transparências e diapositivos, ao passo que os Educadores com mais
de onze anos freqüentaram, sobretudo, acções no âmbito da informática.(31,73%
e 22,22%, respectivamente).
Quanto às funções didácticas dos documentos audiovisuais e informáticos,
verificamos que com percentagem acima dos 50% são os Educadores com tempo
de serviço superior a 20 anos que utilizam com maior frequência para a
sensibilização ao tema e a apresentação de conteúdos alguns dos meios
audiovisuais propostos, a saber os cartazes, o flanelógrafo, as observações
microscópicas, os filmes e videogramas para a apresentação do tema; os
cartazes e o flanelógrafo para apresentação do conteúdos.
Pelo contrário, são os Educadores com tempo de serviço entre 1 e 5 anos
que com menor frequência utilizam os meios audiovisuais e informáticos
para qualquer função, atribuindo a sua utilização acima dos 50%, somente,
ao uso do flanelógrafo e às observações microscópicas e filmes.
Nenhum Educador, com tempo de serviço até 5 anos, assinalou qualquer
tipo de utilização para função didáctica, o projector de opacos, mapas,
correio electrónico, scanner, videofone.
Nenhum Educador com mais 20 anos de serviço assinalou que utiliza para
função didáctica os vídeo jogos, os CD´s, a internet, correio electrónico,
scanner, videofone.
Podemos constatar que correio electrónico, scanner, videotelefone não
são utilizados pelo conjunto de Educadores com menos de 5 anos de serviço
e dos educadores com mais de 20 anos de serviço , por nós inquiridos.
Em relação aos Educadores com menos de 5 anos de serviço os meios de
tecnologia da imagem fixa, como o episcópio e mapas não são utilizados
em nenhuma função didáctica.
- Formação Contínua na área dos meios de comunicação tecnológicos
Verificamos que os docentes até 5 anos de serviço, frequentaram em maior
número acções de formação contínua na área dos meios de comunicação de
tecnologia de imagem fixa projectada, as transparências compostas/acetatos;
contudo, só as utilizam em função didáctica para a apresentação de conhecimentos
/conteúdos e para a comunicação e difusão de informação (4,17%). Parece-nos
que a frequência destas acções de formação não contribuíram para uma efectiva
utilização destes documentos pelos docentes em diferentes funções didácticas,
na sua prática pedagógica.
O grupo de Educadores cuja acção de formação contínua mais freqüentou
foi a da área dos meios de comunicação de tecnologia informática; os programas
informáticos foram os mais freqüentados pelos Educadores entre os 11
aos 20 anos e os Educadores com mais de 20 anos de serviço. Nestes casos
verifica-se que a utilização dos programas informáticos nas diferentes
funções didácticas foram na frequência semelhantes à dos frequentadores
das referidas acções. Podemos constatar que, ao contrário de outras acções
frequentadas por educadores, se manifesta uma coincidência entre a utilização
e a frequência das mesmas.
Conclusão final:
Podemos concluir que a formação inicial só influencia na medida em que
os educadores com licenciatura diversificam mais a utilização dos meios
de comunicação tecnológicos que educador de formação média e de bacharel.
São os educadores licenciados que nas atitudes de mediação mais frequentemente
utilizam os referidos meios para incentivar a motivação.
A formação inicial só condiciona os comportamentos de utilização no que
respeita às funções didácticas. O nível de formação inicial não condiciona
o ponto de vista que a generalidade dos educadores tem sobre a tecnologia,
como factor de mudança (elevado), ou factor de sucesso na escola (elevado)
e como meios de expressão do aluno (igual) nem tão pouco a importância
que atribuem ao uso dos meios de comunicação tecnológicos que utilizam
nas áreas curriculares .
A frequência de acções de formação contínua, pela maioria dos docentes
inquiridos, dá-nos a convicção que o acesso à formação contínua é generalizado
e está implementado no nosso sistema educativo; porém, os dados resultantes
da nossa análise das acções de formação contínua frequentadas em áreas
especificas no âmbito dos meios de comunicação tecnológicos pelos nossos
respondentes, alteram por completo a perspectiva actual da formação contínua
face às necessidades de formação dos educadores de Infância nestas áreas.
Em síntese, parece-nos ser de concluir que o desenvolvimento da formação
docente inicial e contínua têm que obedecer a vários critérios, dos quais
nos permitimos destacar como prioritários o da recentidade e o da pertinência
, isto é, a adequação da formação para responder às necessidades diagnosticadas,
e como tal indispensável à resolução dos actuais problemas criados pelas
inúmeras transformações levadas a cabo pelo Sistema Educativo e pelos
processos de decisões da Política Educativa