El niño en edad preescolar y la televisión. La mediación dela familia. (Portugués)
Quadro teórico de
referencia
Tradicionalmente, a família
era o principal agente socializador-a criança fazia a aprendizagem
de normas e modelos de comportamento no seio da família. Actualmente,
embora continue a desempenhar um papel preponderante no processo de socialização,
este é complementado por outras instituições. Aos
três anos, por vezes antes, a criança inicia uma vida social
num ambiente diferente-o jardim de infância (JI). Aqui, a criança
interage com outras crianças da mesma idade, desenvolve competências
comunicativas, adquire novos conhecimentos e continua a desenvolver-se
como "ser individual" e como "ser social". Coincidente com este período
de extensão dos contextos de socialização, desenvolve-se
também um crescente interesse pela televisão (TV). Tal como
a família e o JI, a TV contribui e intervém activamente
no processo de socialização da criança, constituindo
uma fonte privilegiada de aprendizagens e de contacto com o mundo.
Do mesmo modo que Dorr (1986), consideramos
as crianças uma audiênciaespecial. Crianças
detentoras de competências e de capacidades assinaláveis
no plano cognitivo, da sociabilidade, e da comunicação,
designadamente, sujeitos que exercem um papel activo na construção
e interpretação das mensagens que recebem, mas que não
podem prescindir das formas de mediação dos pais, em relação
às complexidades do mundo que as rodeia, e especialmente no que
diz respeito à televisão.
Se bem que a investigação
tenha superado o modelo dos efeitos imediatos dos media, ele continua
presente no discurso corrente, inclusive no dos próprios meios
de comunicação social. A televisão é frequentemente
utilizada como o bode expiatório de uma série de males:
destruição do diálogo e da própria vida familiar,
indução de comportamentos violentos nas gerações
mais novas, impedimento de realização de outras actividades
tidas como mais importantes e enriquecedoras, desenvolvimento de atitudes
e de comportamentos de passividade, etc.. Ora, se é certo que os
media, e em especial a televisão, exercem uma influência
nos sujeitos consumidores, também é hoje certo que essa
influência não pode ser compreendida fora de um quadro mais
amplo e complexo dos contextos de vida e das relações sociais
dos sujeitos e dos grupos sociais. Assim, a investigação
tem hoje como ponto assente o que a equipa de Schramm tinha formulado
já em 1961: tão importante como interrogarmo-nos sobre o
que a televisão faz às pessoas, é questionarmo-nos
sobre o que as pessoas fazem com os media.
A programação televisiva
gera constantemente significados, mas nem todos os programas incidem da
mesma forma em todas as crianças. As leituras feitas a partir das
mensagens televisivas são diferentes consoante as crianças
e as condições de recepção televisiva. Aqui
intervêm factores como a idade, o meio familiar, as condições
psicológicas das crianças, o seu desenvolvimento afectivo
e intelectual, a sua vida social, o seu meio escolar e o meio rural ou
urbano em que vivem (cf.Chalvon et al.., 1991; Mariet, 1989; Lazar,
s/d; Chevallier et al.., 1991). A possibilidade de comentar ou
não o que se vê na televisão com a família,
pode também influenciar a forma como as crianças vêem
TV e o significado que dão àquilo que vêem. Por este
motivo, a capacidade infantil para a compreensão e interpretação
da TV, deve ser considerada pelos pais.
Vários autores (Chevallier;
Souchon; Lazar; St. Peters; Huston, entre outros) sustentam que o modo
como as crianças vêem TV é influenciado pelo meio
familiar; os pais podem influenciar a forma como os filhos vêem
TV e as aprendizagens que realizam com essa experiência. Citando
Chevallier (1991:245), "o papel dos pais e do ambiente familiar aparece
hoje como um dado essencial de todos os novos estudos sobre a relação
entre crianças e televisão".
Um dos avanços mais importantes
dos estudos sobre as audiências - em que podemos destacar autores
como James Lull, David Morley, Thomas Lindlof e Roger Silverstone, entre
outros - tem sido o crescente reconhecimento da importância de estudar
o contexto de recepção, ou seja, estudar o contexto em que
decorre habitualmente o respectivo consumo: o contexto familiar.
Ao considerarmos a relação
entre a família e a televisão à luz de pesquisas
desenvolvidas nas últimas décadas em países como
Inglaterra, EUA, França, e México, somos levados a concluir
que a actividade televisiva tem uma relação estreita com
a vida familiar e com os distintos modos de organizar a vida quotidiana,
constituindo um indicador, um pretexto, e um estímulo para a interacção
no seio da família.
Numerosos estudos desenvolvidos em
vários países, indicam que a interacção presencial
e directa com os ‘adultos significativos’, especialmente com os pais,
a discussão, os comentários e a explicação
dos conteúdos, ajudam as crianças a interpretar e a compreender
as mensagens televisivas recebidas.
O Conceito de Mediação
Comprendemos a mediação
a partir de situações de interacção. Em termos
gerais, e no quadro específico deste estudo, definimo-la como o
processo através do qual os pais e ‘outros significativos’, ajudam
as crianças a descodificar e a compreender as complexidades do
meio físico e social, para termos capazes de serem compreendidos
pelas crianças nos diferentes níveis de desenvolvimento.
Portanto, consideramos a mediação como o ‘construir pontes’
entre o que a criança sabe e a nova informação a
apreender e a estruturar.
Os processos de mediação
facilitam e promovem o conhecimento e a aprendizagem da criança,
na medida em que constituem para ela guia, apoio, direcção,
estímulo (Rogoff, 1993). Através da mediação,
a criança, com a ajuda dos ‘outros significativos’, selecciona,
interpreta, critica, reforça, complementa, contradiz, transforma,
organiza, estrutura as informações provenientes do meio
envolvente (inclusive do meio televisivo), permitindo-lhe assim abordar
com mais eficiência os ‘assuntos’ da vida quotidiana.
Esse processo depende tanto do papel
da criança, como dos recursos e apoios das pessoas com quem interage,
como do contexto e práticas culturais do meio em que está
inserida e a que pertence.
Barbara Rogoff fala da participação
guiada que, na nossa opinião, é uma forma de mediação.
Define-a como "um processo em que os papéis desempenhados pela
criança e pelas pessoas que cuidam dela estão de tal maneira
entrelaçados, que as interacções rotineiras entre
eles e a forma como habitualmente se organiza a actividade proporcionam
às crianças oportunidades de aprendizagem tanto implícitas
como explícitas" (Rogoff,1993:97). Considera que, nas interacções
quotidianas das crianças com os adultos, existem muitas oportunidades
que tornam possível a participação guiada na resolução
de problemas e de conflitos. É neste sentido que considera que
a criança aprende com a ajuda da «orientação social».
De acordo com a perspectiva da autora,
que seguimos, no processo de comunicação quotidiana, as
crianças partilham os seus centros de interesse; nesse processo,
as trocas que se produzem no curso da interacção, ajudam
a criança a interpretar situações e acontecimentos
e a descodificar a realidade que se apresenta complexa.
A mediação que o adulto
exerce nem sempre se produz de forma intencional; implica atenção
e participação activa, mas também pode ocorrer de
forma implícita, até mesmo ‘automática’.
É essencial reconhecer que,
além das diferenças do papel mediador dos pais nas diferentes
culturas, há que ter também em conta as diferenças
do papel dos irmãos e de outras crianças, dos avós,
etc. nos processos de mediação, e as diferenças decorrentes
dos distintos recursos simbólicos e materiais e das diferentes
posições no sistema social. A família nuclear, por
exemplo, apresenta um ambiente para as crianças muito diferente
daquele em que vivem rodeadas de muitos irmãos, de primos, dos
avós e de outras pessoas próximas (sejam ou não familiares).
No que diz respeito à televisão,
o conceito de mediação tem sido objecto de diferentes conceptualizações:
Desmond et al.. (1985:463)
consideram a mediação como "qualquer esforço activo
por parte dos pais, e de outros, para traduzir as complexidades do meio
físico e social, incluindo o meio televisivo, em termos capazes
de serem entendidos pelas crianças nos vários níveis
de desenvolvimento cognitivo".
Bryce e Leichter (1983:310) entendem
por mediação os "processos através dos quais a
família (ou outras instituições) filtra as influências
educacionais, protege, interpreta, critica, reforça, complementa,
contradiz, reage e transforma".
Corder-Bolz (1980) operacionalizou
o conceito em termos de mediação verbal explícita
(do adulto para as crianças), o que constitui apenas uma forma
de mediação que pode ocorrer na família. O autor
considera que os pais ou ‘outros significativos’ podem influenciar a aprendizagem
que as crianças fazem da televisão, proporcionando-lhes
um comentário verbal sobre o conteúdo do programa.
A nossa abordagem ao conceito de mediação
estudo segue as orientações de Desmond et al.. e
de Bryce e Leichter. Assim sendo, entendemos por mediação
os processos através dos quais os pais (e ‘outros significativos’),
ajudam as crianças a filtrar, diluir, confrontar, interpretar e
atribuir significado aos conteúdos dos media [mediatizados]. Envolve
também as estratégias (directas e indirectas) de restrição
e controlo das experiências televisivas das crianças.
Consideramos que é através
do confronto das suas [das crianças] percepções e
interpretações das mensagens recebidas, que pode emergir
uma «competência» activa, crítica e criativa (e criadora)
face à televisão. É pois um processo estruturante
da experiência televisiva da criança.
Formas de mediação
em relação à televisão
Foram identificadas na literatura
(Weaver e Barbour, 1992) três dimensões distintas da mediação
da televisão exercida na família:
Mediação Restritiva: ocorre
quando os pais controlam (limitando) a actividade televisiva das crianças
em termos de tempo, de conteúdos e de tipos de programas que
elas podem ou não podem ver. Envolve a implementação
e a execução de regras em relação à
actividade televisiva da criança.
Mediação Avaliativa: este
tipo de mediação ocorre quando os pais e as crianças
vêem televisão com um objectivo, discutem e interpretam
os programas com as crianças. Este tipo de mediação
proporciona às crianças uma compreensão crítica
da televisão.
Mediação Não-Focalizada:
é o mesmo que mediação indirecta. Inclui
as opiniões e posições dos pais acerca da TV em
geral, e comentários genéricos a programas específicos,
durante e após o visionamento. Compreende os hábitos e
as atitudes dos pais em relação à TV. É
a mediação pelo exemplo, pela observação.
Exige pouco ou nenhum envolvimento por parte dos pais. Consequentemente,
é casual, não deliberada. Vários investigadores
sustentam que a grande parte das situações de visionamento
em conjunto envolve este tipo de mediação (cf. Dorr et
al.., 1989).
A análise destas formas de
mediação sugere-nos que a restritiva e a avaliativa são
formas directas de mediação pois exigem uma intervenção
deliberada por parte dos pais (ou de quem exerce a mediação).
A não-focalizada, pelo que foi referido, é uma forma
de mediação indirecta. Mas, mediação directa
não significa necessariamente mediação activa.
Esta exige intenção, exige uma estratégia para discutir,
explicar, interpretar, confrontar os conteúdos dos programas televisivos;
implica envolvimento, participação, e quase sempre o visionamento
em conjunto. Ver televisão com as crianças origina mais
oportunidades de discussão e de confronto de percepções.
Será por vezes a oportunidade de esclarecer o que está a
acontecer, outras vezes envolverá outro tipo de comentários
e de questões. As maiores vantagens surgem provavelmente das acções
e interacções associadas, facilitadas ou motivadas pelo
ver em conjunto.
Em relação às
formas directa / indirecta de mediação em relação
à televisão, ambas assumem elevada importância e influência
nas experiências televisivas das crianças, tal como vários
autores sustentam. Contudo, diversos autores defendem que a mediação
activa, as interacções directas e intencionais, são
as mais determinantes do processo de mediação, as mais consequentes
na forma como as crianças interpretam, compreendem e se apropriam
dos conteúdos televisivos e nas aprendizagens que podem realizar
através da televisão. Quanto mais directa e deliberada for
a mediação, mais efectiva será.
Gostaríamos ainda de sublinhar
que estas formas de mediação não são, na nossa
perspectiva, estanques. Numa família pode ocorrer um determinado
tipo de mediação ou uma combinação dos três.
Assim sendo, podemos chegar a uma
ideia central: a mediação feita pelos pais [ou outros adultos
significativos] pode influenciar a experiência televisiva das crianças
e as aprendizagens que fazem do que vêem. É importante que
os pais em vez de assumirem peremptoriamente que a televisão tem
um enorme impacto negativo nas crianças, procurem antes assumir
alguma responsabilidade em precaver os efeitos negativos, e procurem actuar
como mediadores nessa experiência, optimizando o contexto em que
se realiza a recepção.
Partilhamos da opinião de St
Peters et al..(1991:1422) quando afirmam que "o contexto familiar
é fundamental para a socialização do uso da televisão
pelas crianças mais pequenas. As famílias determinam não
só o tempo de consumo pelas crianças, mas os tipos de programas,
e a qualidade da experiência televisiva".
A pesquisa desenvolvida
Tendo como base este conjunto de pressupostos,
propusemo-nos desenvolver uma pesquisa sobre os processos de interacção
e de mediação da família em relação
à televisão, perspectivadas no contexto mais vasto das práticas
sociais quotidianas (e não isoladas relativamente ao quotidiano).
Mais especificamente, propusemo-nos conhecer os processos de mediação
que os pais desenvolvem em relação às experiências
televisivas de crianças na faixa etária dos 3-6 anos de
idade. Face ao objecto e aos objectivos da pesquisa, foi necessário
recolher informações, experiências, vivências
e opiniões de pais de crianças com idades compreendidas
entre os 3 e os 6 anos de idade ou, na sua ausência, de outros ‘adultos
significativos’ na vida dessas crianças.
Tendo em vista estes objectivos, entrevistámos
um grupo de 50 famílias de diferentes meios sociais e geográficos
do distrito de Braga, uma cidade do Norte de Portugal. Para analisar o
volume de informações que recolhemos, optámos pela
análise de conteúdo de natureza qualitativa tendo como base
um conjunto de categorias temáticas que constam da figura a seguir
indicada (esta comunicação detém-se apenas na discussão
da 3ª categoria temática - 'Processos de mediação
da televisão na família'. As conclusões apresentadas
também só dizem respeito a esta categoria).
Partimos para esta pesquisa considerando
a possibilidade de existência de usos diferenciados da TV e, consequentemente,
de diferentes formas de mediação. Admitimos que estes aspectos
são influenciados e determinados não só pelas possibilidades
de acesso das famílias a determinados recursos materiais e simbólicos,
mas igualmente por outros factores, a que chamamos, de recepção,
tais como zona de residência, nível de instrução
e ocupação dos pais, estilos de educação,
padrões de comunicação, e a própria oferta
televisiva.
FIGURA 1
CATEGORIAS TEMÁTICAS DE ANÁLISE
DAS ENTREVISTAS
organização da vida quotidiana familiar
- Actividades quotidianas da família: tempo de trabalho
/ tempo livre
- Actividades preferidas das famílias / crianças
- Gestão do tempo
- Vivência de um tempo social: o serão
Interacção da família com a televisão
- Número e localização
dos receptores de TV no lar
- Tempos e modos de ver (quem vê com quem,
em que momentos, quem escolhe o que se vê...)
- Os gostos e as preferências televisivas
das famílias
- Os gostos e as preferências televisivas
das crianças
- Importância que, segundo os pais, a televisão
tem na vida das crianças
- Papel e importância da TV no quadro de
vida familiar
- Usos sociais da televisão (baseando-nos
na tipologia sugerida por James Lull, apresentada e discutida
no capítulo III)
- Relação entre televisão
e aprendizagem
processos de mediação da televisão na família
3.1. Mediação Restritiva
Os pais implementam regras em relação
ao consumo televisivo dos filhos.
Exemplos: proibição de certos
programas
restrição do tempo de consumo televisivo
3.2. Mediação Avaliativa
Os pais e as crianças vêem televisão
em conjunto e dialogam sobre os programas (o ‘ver televisão’
é intencional, tem um propósito/objectivo).
Exemplos: discussão e interpretação
de determinados programas
explicação do conteúdo dos
programas
3.3. Mediação não
focalizada
Os pais fazem espontaneamente comentários
/ afirmações / perguntas durante ou após
o programa.
factores que influenciam a mediação
- Estrutura familiar
- ‘Características’ das crianças
- Uso social do espaço
- Gestão do tempo
- Acessibilidade televisiva
tipos de família
Através do cruzamento das variáveis
"encorajamento" e "restrição", determinadas no ponto
4, pretende-se identificar o tipo de família, seguindo
a seguinte classificação:
- Família Permissiva ("laissez-faire"):
nem encoraja nem restringe
- Família Restritiva: restringe
mas não encoraja
- Família Consensual: encoraja
mas não restringe
- Família Selectiva: tanto restringe
como encoraja.
Algumas conclusões
A análise dos dados da investigação
empírica referentes aos processos de mediação da
televisão na família, permitiu pôr em evidência
diversos aspectos, designadamente:
as práticas televisivas são bastante
diversificadas e encontram-se entrelaçadas com as práticas
quotidianas; pode dizer-se que a relação família
- televisão é social e culturalmente mediada pelo quadro
social da vida quotidiana;
as crianças vêem frequentemente a
programação que lhes é especialmente destinada
(quase sempre sozinhas ou na companhia dos irmãos), mas vêem
também assiduamente a programação familiar ou dirigida
a audiências adultas, e na maioria das vezes na companhia dos
pais;
de uma forma geral, os pais não conhecem
nem vêem com os filhos a programação destinada especificamente
à infância; consequentemente, são poucas as situações
de mediação desenvolvidas pelos pais em relação
aos programas infantis que os seus filhos vêem. As crianças
habitualmente vêem esses programas sozinhas ou na companhia de
irmãos; só pontualmente é que o fazem na companhia
dos pais, apesar de solicitarem frequentemente a sua presença
nesses momentos. Importa salvaguardar os (poucos) casos em que os pais
se envolvem activamente na experiência televisiva dos seus filhos,
procurando acompanhar, conversar e comentar com as crianças o
que elas vêem na televisão;
as crianças vêem diariamente a programação
familiar ou destinada a audiências adultas na companhia dos pais.
É sobretudo em relação a este tipo de programação
que os pais exercem algum tipo de mediação. Quando o visionamento
televisivo é realizado em conjunto (entre pais e filhos), e quando
os programas são da preferência de ambos, há uma
maior probabilidade de diálogo, de troca de impressões,
de comentários, de esclarecimentos, etc.;
os pais identificaram o programa ‘Rua Sésamo’
como o exemplo do que as crianças aprendem com a televisão
e como o programa que mais frequentemente incentivam os filhos a ver;
das três formas de mediação
contempladas na análise-restritiva, avaliativa e não focalizada-a
primeira é a que ocorre com mais frequência no seio das
famílias estudadas, seguindo-se a não focalizada ou indirecta.
Estes dados revelam-nos que os pais adoptam sobretudo atitudes e práticas
de restrição, regulação e proibição
em relação à televisão. É mais frequente
a restrição de determinados programas televisivos, devido
aos seus conteúdos (sobretudo de violência e sexo), do
que a restrição do tempo de consumo. Encontramos também
pais que exercem formas avaliativas de mediação, ou seja,
pais que dizem preocupar-se em explicar às crianças os
conteúdos televisivos, em ajudá-las a interpretá-los,
a filtrar e digerir certos tipos de programas mais problemáticos.
Mas, esta forma de mediação é, comparativamente,
menos frequente, e nem todos os pais estão conscientes ou têm
conhecimento da importância que pode ter ao nível das experiências
televisivas das crianças;
a mediação não-focalizada
ou indirecta é particularmente frequente durante o tempo de consumo,
mas extravasa mesmo esse tempo. Esta forma de mediação
exige menos implicação, menos envolvimento e menos intencionalidade
por parte dos pais;
a mediação avaliativa, que implica
um envolvimento mais activo por parte dos pais, é a que ocorre
com menos frequência. No entanto, há pais que conversam
e comentam com os seus filhos os programas televisivos, que se envolvem
na experiência televisiva das crianças ou que expressam
essa preocupação. Estes pais são da opinião
que os seus filhos aprendem mais com e através da televisão
quando vêem acompanhados e/ou quando têm oportunidade de
comentarem o que viram. Assim, parece-nos legitimo concluir que é
importante para a aprendizagem das crianças que elas vejam televisão
acompanhas pelos seus pais e conversem com eles sobre o que estão
a ver, e que é igualmente importante (sobretudo quando a situação
anterior não se proporciona), que haja uma interacção
entre pais e filhos depois (e não só durante) o momento
de visionamento.
os hábitos e preferências televisivas
das crianças são muito semelhantes aos dos seus pais,
o que nos leva a corroborar a principal conclusão do estudo desenvolvido
por St Peters et al.. (1991) segundo a qual, "as famílias
determinam não só a quantidade de tempo que as crianças
vêem, mas também os tipos de programas e a qualidade da
experiência televisiva";
a mediação que os pais desenvolvem
em relação à televisão que as crianças
vêem influencia, como era já suposição nossa
e vários estudos o documentam, a experiência televisiva
das crianças, os usos e as aprendizagens que elas fazem em relação
ao que vêem;
factores como a estrutura familiar, aspectos relacionados
com as crianças, a organização do espaço,
a gestão do tempo e a localização e acessibilidade
dos receptores de televisão, influenciam e condicionam os processo
de interacção e de mediação na família;
as diferentes experiências que decorrem das
posições sociais [distintas], leva a que as famílias
atribuam significados, filtrem, interpretem e utilizem a experiência
televisiva de diferentes modos.
Um outro aspecto que a análise
dos dados permitiu evidenciar como sendo um factor que exerce uma influência
considerável nos processos de mediação, diz respeito
ao conceito de infância e de criança presente em cada família.
Encontramos, essencialmente, três modelos de concepção
da criança, os quais têm implicações nas formas
de conceber e ‘praticar’ a mediação:
famílias que concebem as crianças
como agentes activos dos processos sociais em que estão envolvidas,
‘actoras’ do seu próprio desenvolvimento, dotadas de determinadas
competências, sujeitos de direitos, ainda que com características
específicas. As famílias que têm subjacente este
modelo de criança, tendem a adoptar formas avaliativas de mediação,
procuram sempre dar uma resposta satisfatória às solicitações
das crianças, e não uma resposta para as calar, como acontece
num número significativo de famílias. São os próprios
pais que por vezes desafiam as crianças a questionar o que estão
a ver, fazem-lhes perguntas, pedem-lhes a sua própria opinião
sobre determinados programas, acreditam que as crianças, dentro
dos seu nível de desenvolvimento e maturidade cognitiva, têm
a capacidade de ser selectivas e críticas em relação
ao que vêem, sobretudo se puderem contar com a mediação
dos pais . Oferecem-lhes também, com alguma regularidade, alternativas
à televisão, sugerindo-lhes a realização
de outras actividades.
famílias que têm uma concepção
da infância como deficitária, isto é, que concebem
as crianças não por aquilo que elas já são
capazes de pensar, entender, e fazer, mas por aquilo que serão
capazes no futuro, desprovidas de capacidades e de competências
específicas. Esta forma dos pais conceberem a infância
e as crianças leva-os a adiar frequentemente explicações,
a evitar comentários, a deixar as respostas às perguntas
das crianças para "quando fores mais crescido" ou para "quando
fores mais velho". Estas famílias, em que predominam formas restritivas
de mediação, procuram também evitar que as crianças
vejam determinados programas, principalmente os que envolvem conteúdos
de natureza violenta e erótica, pelo facto de os considerarem
prejudiciais para o desenvolvimento harmonioso das crianças,
e por recearem que elas possam fazer perguntas às quais não
terão forma de responder devido à falta de capacidade
de entendimento por parte das crianças, à sua inexperiência
e credulidade.
famílias que concebem as crianças
como seres indefesos, fortemente influenciáveis e vulneráveis,
e que, por essa razão, têm como única e quase exclusiva
preocupação, proteger as crianças dos conteúdos
veiculados por determinados programas televisivos, por serem susceptíveis
de influir negativamente no seu processo de desenvolvimento e na formação
da sua personalidade. A ideia que prevalece nestas famílias é
que as crianças precisam de ser protegidas dos efeitos negativos
que a televisão nelas possa exercer, adoptando também
formas restritivas de mediação, mas que se orientam quase
sempre no sentido da proibição.
Comentário final
Consideramos que é indispensável
que os meios de comunicação social, e neste caso concreto
a televisão, sigam as normas éticas, deontológicas
e jurídicas para que as suas funções sociais sejam
realizadas de forma positiva. Todavia, atendendo ao ambiente de liberdade
e de competição existentes ao nível dos meios de
comunicação social, e a que a lógica dominante, nomeadamente
na televisão, é a captação de audiências,
consideramos que a mediação dos conteúdos dos medias,
através do acompanhamento e do diálogo, por parte de adultos
significativos para as crianças, pode ter um carácter decisivo
na forma como elas se apropriam e usam a televisão.
Na nossa pesquisa a relação
das crianças com a televisão, os seus hábitos, preferências,
modos de ver, etc. foram referidos, analisados e classificados por adultos,
de acordo com os seus critérios. Seria contudo interessante ouvir
as crianças, procurando descobrir como é que elas próprias
entendem a televisão. Se queremos saber que sentido faz a televisão
para elas, que prazeres, satisfações, opiniões, e
emoções lhes provoca, seria importante estudá-la
do ponto de vista das próprias crianças, ouvir o que elas
têm a dizer, dar-lhes voz. Este é um desafio que temos em
mãos.
BILIOGRAFIA
BREDERODE SANTOS, Maria Emília, (1991),
Aprender com a Televisão: O Segredo do Rua Sésamo,
Lisboa: TV Guia Editora
BRYCE, Jennifer W.; LEICHTER, Hope J. (1983), ‘The
Family and Television: Forms of Mediation’, in Journal of Family
Issues, vol.4 (2), pp.309-328
BUCKINGHAM, David (1993), Children Talking Television,
London: The Falmer Press
BUCKINGHAM, David (1994), ‘Television and the Definition
of Childnood’in MAYALL, Berry (Ed.), Children´s Childhoods
Observed and Experienced, London: The Falmer Press
CHALVON, Mireille; Corset, Pierre; SOUCHON, Michel
(1990), L’Enfant Devant la Télévision des Années
90, Paris: Casterman
CHEVALIER, Eric; BANNEY, M.; MANSOUR, S. et
al.. (1991), La Rélation Enfant-Television: Implications
Physiques, Psychologiques, Educatives et Sociales, Paris: Centre
International de L’Enfance
DESMOND, Roger J.; SINGER, J.; SINGER, D.; CALAM,
R.; COLIMORE, K. (1985), ‘Family Mediation Patterns and Television Viewing
- Young Children’s Use and Grasp of the Medium’, in Human Communication
Research, vol.11, nº4, pp.461-480
DORR, Aimée (1986) Television and Children:
a Special Medium for a Special Audience, London: Sage
GUNTER, Barrie; SVENNEVIG, Michael (1987), Behind
and in Front of the Screen, Television’s Involvement with Family Life,
London: John Libbey
LAZAR, J. (s/d), Escola, Comunicação,
Televisão, Lisboa: Rés Editora
LINDLOF, Thomas; TRAUDT, Paul J., (1983), ‘Mediated
Communication in Families: New Theoretical Approaches’, in MANDER, Mary
S. (ed.), Communications in Transition - Issues and Debates in Current
Research, New York: Praeger Publishers
LULL, James (1990b), Inside Family Viewing-Ethnografic
Research on Televison’s Audience, London: Routledge
LULL, James (ed.) (1988), World Families Watch
Television, Sage: Newbury Park
MARIET, François (1989), Laissez-les
Regarder la Telé, Paris: Calmann Lévy
MORLEY, David (1986), Family Television: Cultural
Power and Domestic Leisure, London: Comedia
PINTO, Manuel (1995), A Televisão no
Quotidiano das Crianças, Tese de Doutoramento em Ciências
da Comunicação, Braga: Instituto de Ciências Sociais
da Universidade do Minho
ROGOFF, Barbara, (1993), Aprendices del Pensamiento,
Barcelona: Paidós (edição inglesa de 1990)
SCHRAMM, W.; LYLE, J.; PARKER, E. (1965), Television
para los niños, Barcelona: Editorial Hispano-Europea (edição
original americana de 1961)
SILVERSTONE; Roger (1994), Television and Everyday
Life, London: Routledge
ST. PETERS, Michelle; FITCH; Marguerite, HUSTON,
Aletha C.; Wright, Jonh C.; EAKINS, Darwin J. (1991), ‘Television and
Families: What do Young Children Watch with their Parents?’, in Child
Development, nº 62, pp. 1409-1423
WEAVER, Barry; BARBOUR, Nancy (1992), ‘Mediation
of Children’s televiewing’, in Familes in Socitey; The Journal of
Contemporany Human Services, vol. 73
Resumen de la comunicación
"El niño en edad pré-escolar
y la televisión: una mirada a partir de la mediación de
la familia"
Con esta comunicación pretendo
presentar las conclusiones de una investigación desarrollada en
el Instituto de Estudios del Niño de la Universidad del Miño
(Portugal) sobre los procesos de mediación de la televisión
en familias con niños en edad pré-escolar.
Subyacente a este estudio está
la idea de que la mediación que los padres hacen de los contenidos
televisivos juega un papel crucial tanto en la forma como los niños
los interpretam, entienden e de ellos se apropian como en los aprendizajes
que pueden realizar gracias a la televisión.
Este estudio envolvió cincuenta
(50) familias de diferentes medios sociales y geográficos del distrito
de Braga (una ciudad al Norte de Portugal) y ciento seis (106) niños
y niñas entre los tres (3) y los seis (6) años de edad.
En la recogida de datos se usaran
entrevistas en profundidad.
Al final se reitera la idea de que
es gracias a la confrontación de las percepciones y interpretaciones
de los mensajes recibidos que puede emerger una competencia activa, crítica
y creativa ante la televisión. La mediación se afigura,
pues, como un proceso estructurante de la experiencia televisiva del niño.